O Bloco de Ações em RAP, Rádio e Ausências (BARRAS) é um grupo de pesquisa e extensão, voltado para a promoção de vozes não hegemônicas. A história geralmente é contada por aqueles que silenciaram os outros povos, através da força e impuseram as suas versões. Não por essas serem as mais verdadeiras, mas sim por terem aniquilado povos e mutilado as suas vozes.
Desse modo, o BARRAS age na contramão das histórias oficiais e busca promover aquelas vozes que foram silenciadas. Nossas ações envolvem produção sonora, revista e pesquisas sobre rap e rádio. Todas elas são focadas em vozes não hegemônicas.
O BARRAS é reconhecido no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) como um grupo de pesquisa, bem como é um programa de extensão ligado a Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis da UNIR (PROCEA). O grupo é coordenado pelo professor Carlos Guerra Júnior, do Departamento Acadêmico de Comunicação da UNIR (DACOM/UNIR).
A base teórica é prioritariamente formada pela sociologia das ausências e das emergências, teoria do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, um parceiro do projeto. Boaventura de Sousa Santos defende que as ciências sociais e humanas devem se preocupar com detectar as ausências na história, ampliando assim o presente, ao conhecer uma pluralidade de versões paralelas. Sendo assim, nossas pesquisas em rap e rádio focam justamente em encontrar essas vozes subalternizadas.
O rap é um objeto escolhido por ser um movimento global, que empodera jovens e periféricos em busca de contrapor as histórias oficiais. O rádio é historicamente um veículo popular dentro da comunicação, sendo aquele que mais se aproxima das zonas periféricas. Nele, buscamos o sentido comunitário, de vozes populares, que empoderam populações periféricas e acabam com os “desertos de notícias”. Além disso, nos preocupamos em pesquisar as condições de trabalho dos profissionais do rádio.
As pesquisas são realizadas pelos estudantes Ana Laura Gomes, Mateus Alves, Camila Pinheiro e Giancarlos Eugênio, bem como por pesquisadores externos Tirso Sitoe (Bloco 4 Foundation/Moçambique), Adalberto Almeida (UFRN) e João Noé Alves de Carvalho (Universidade de Coimbra/Portugal), sob coordenação de Carlos Guerra Júnior.
A sociologia das ausências realiza um importante papel de detectar as vozes ausentes, mas o professor Boaventura afirma que não basta encontrar as ausências, é necessário “antecipar o futuro” e apresentar soluções para a promoção dessas vozes. É por isso que nascem os nossos projetos de extensão, que focam em encontrar soluções para antecipar o futuro.
A revista Versões Ausentes é um dos projetos focados na promoção das vozes ausentes no estado de Rondônia. Com edição trimestral, a revista irá relatar as histórias silenciadas em diferentes áreas, contando com edições especiais. Atualmente, um grupo de cinco estudantes integra a equipe de reportagem: Lídia Aciole, Ana Laura Gomes, Márcia Eduarda Chaves, Alana Bentes e Caio Assunção. Na coordenação estão a professora Evelyn Morales, o professor Carlos Guerra Júnior e o pesquisador da Universidade de Coimbra João Noé Alves de Carvalho.
Na produção sonora, teremos o projeto Unir Vozes, que integra um programa esportivo, um programa de rap e projetos experimentais de rádio.
“Deu Bera” é a nossa jornada esportiva que visa promover a identidade beradeira através do futebol. Beradeiro é uma referência para quem nasce na beira do rio e foi um termo utilizado de forma pejorativa por muito tempo. No entanto, o povo rondoniense se apropriou do termo, para mostrar a particularidades da cultura “Beradeira” ou simplesmente “Bera”. Apesar de o futebol ser um esporte hegemônico, o estado de Rondônia é apenas o 26º estado (penúltimo) no ranking da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Então, fazer futebol em Rondônia não é por meio de holofotes, mas sim uma reunião de histórias de resiliências e inclusão social, de jovens sonhadores que lutam por um sonho e deixam suas famílias, para viverem em alojamentos. O projeto “Deu Bera” é integrado pelas estudantes Loide Gonçalves, Juliana Miranda e Midian Mascarenhas.
O nosso programa de rap tem como nome Barras Maning Arretadas. Barras é como se denomina os versos na linguagem do rap, maning é uma palavra de origem moçambicana que significa muito e arretadas é uma expressão do Nordeste brasileiro, para alguém valente ou aguerrida. Sendo assim, “Barras Maning Arretadas” pode ser entendido como “Rimas muito valentes” ou “Rimas muito pesadas”, em uma “tradução” da linguagem convencional para a linguagem do rap.
O programa Barras Maning Arretadas irá promover as vozes africanas através de episódios de podcast sobre a música rap em várias partes do nosso continente mãe. Barras Maning Arretadas é também um projeto de rap homônimo formulado pelo professor Carlos Guerra Júnior, junto a quatro rappers produtores de Moçambique, país africano, formulado em abril de 2020.
Naquele período, em meio à Covid-19 os rappers e produtores decidiram criar alternativas para a produção sonora de música rap e isso gerou em lives, produção musical e evento internacional online. Agora, gera mais um produto, que é o podcast produzido por estudantes da Unir. O podcast será produzido pelos estudantes Mateus Alves, Márcia Eduarda e Caio Assunção, sob coordenação dos professores Carlos Guerra Júnior e Thales Pimenta.
O Unir Vozes também abrange produção sonora experimental de curta duração. Um exemplo foi a parceria criada com o REC – Rádio, Educação e Cidadania, liderado pela professora Evelyn Morales, para a cobertura das eleições na Rede de Rádios Universidade do Brasil (RUBRA). Os estudantes realizaram a cobertura dos dois turnos das eleições. A produção sonora das eleições também gerou uma comunicação no Encontro Nacional da Rede de Rádios Universitárias do Brasil (EnRubra) e teve colaboração dos estudantes Agner Vitória, Alana Beatriz, Alice Bastos, Caio Assunção, Camila Pinheiro, Márcia Eduarda Chaves, Midian Mascarenhas e Vitória Cristina.
Abrangência internacional
O BARRAS nasce na UNIR, mas tem uma abrangência bem além dos muros da UNIR. O projeto conta com as parcerias internacionais de instituições de pesquisa e universidades do exterior. São parceiras a Bloco 4 Foundation (Moçambique), a Universidade Hip Hop (Angola) e a Universidade de Santiago (Cabo Verde). As duas primeiras são instituições de pesquisa e cultura voltadas para a promoção do hip hop, enquanto a última é uma universidade em que o professor Carlos Guerra Júnior colaborou em 2021.
Além disso, a Rádio da Nova Língua Portuguesa, que conta com colaboradores de todos os países de língua oficial portuguesa, é parceira do projeto e divulga os programas produzidos por estudantes da Unir. Os sites de rap Underground Lusófono e Bocada Forte também são parceiras na divulgação das ações de rap do BARRAS. O Underground Lusófono é o primeiro site de rap responsável por ligar os países de língua portuguesa, enquanto o Bocada Forte é o primeiro site de rap brasileiro da história.